Magnus e Alec de 'ShadowHunters'.








Escrevi toda uma saga de fantasia de quatro livros usando apenas personagens heterossexuais. Quando fui escrever um nova história, resolvi sair um pouco das minhas zonas de conforto. E, entre tantas coisas, usar personagens ou relações não heteronormativas (um homem e uma mulher). Precisava de referências, e como foi difícil de encontrá-las! 
Primeiramente, você não encontra personagens homo, bi ou transsexuais em histórias em que questões de sexualidade não sejam o foco. Encontrar personagens com essas características em fantasias, distopias, aventura é realmente um achado. 
Amanita e Nomi de 'Sense8'

Segundo, quando você encontra normalmente não possuem personalidade própria, ser gay ou trans vira a principal característica dele. O que fulano é na história? O gay. Gente, isso é terrível.  
Outro problema, todas relações não heteronormativas, são extremamente sexualizadas. Sinceramente vejo por trás disso um enorme preconceito, como se essas pessoas não fossem capazes de amar verdadeiramente e suas relações fossem apenas baseadas em sexo.  
Por isso, penso que seja a grande dificuldade de trabalhar esses personagens fora de romances hot ou dramas. Aparentemente quando alguém não é hetero, sua vida e personalidade gira em torno de sua sexualidade e essa pessoa não tem mais nada a oferecer. Pelo menos é assim que penso quando dou de cara com esses personagens 
Colocar personagens não-heteros em sua história apenas para se fazer de moderninho, mas resumi-los a sexo, mostra que você é sim uma pessoa preconceituosa.  
A não ser que seja sua intenção, não use relações poliamorosas para apenas realizar fetiches. Colocar uma relação entre três ou mais pessoas, para apenas escrever uma cena de 'ménage', penso ser bastante desrespeitoso. Mais uma vez, usando relações não heteronormativas apenas para  ter mais apelo sexual. Repito, a não ser que seja a intenção. Vai que você esteja escrevendo um conto erótico mesmo. 
Mitchell e Cam de 'Modern Family'.
Mas que tal usar personagens bissexuais, homossexuais, ou trans para além dessas suas características? Que tal dar a eles personalidades próprias? Que tal colocá-los em histórias com aventura, ação, magia? Imagino que essas pessoas se sentiriam muito mais representadas do que por personagens gays vazios e sem utilidade.

Se você quer trabalhar uma relação a três, dê personalidades claras a todos envolvidos. Mostre como é a relação entre cada um. E não apenas um cara sendo 'servido' por duas mulheres ou uma mulher sendo 'servida' por dois homens. É sem graça e mais do mesmo.

E por favor! Ser bissexual não quer dizer ser um tarado que aceita tudo e qualquer coisa. Vamos parar com isso, tá bem?

Existe até um teste, chamado Teste de Vito Russo, criado pela comunidade LGBT e tomando por base o teste de Bechdel. Ele pressupõe três pontos:

1. O filme contém um personagem que é identificado como lésbica, gay, bissexual e/ou transgênero;
2. O personagem não deve ser exclusiva ou predominantemente definido pela sua orientação sexual ou identidade de gênero;
3. O personagem deve estar vinculado na trama de tal forma que sua remoção teria um efeito significativo.

Uma ótima dica é se for trabalhar com um personagem com uma orientação sexual ou identidade de gênero diferente da sua procura conversar com essas pessoas. Se não conhece, procura em grupo de escritores que com certeza vai aparecer alguém para tirar suas dúvidas. Mas não fica reproduzindo senso comum.

Tecnologia do Blogger.