Parece óbvio, mas vejo muitas descrições em que se esquece
dos cinco sentidos e se trabalha apenas a visão. Por um instante, não há
problema algum com isso, depois a descrição fica bidimensional, seca, com
aquele sentimento de que falta algo para melhorar. Então tente trabalhar ao
menos dois sentidos entre visão, audição e tato. Olfato também é muito
bem-vindo.
Tenha conhecimento que isso não é regra e que em alguns casos
deverá ser burlada. A exemplo: sendo seu narrador-personagem surdo ou cego (ou
estando momentaneamente nessas condições) o mundo a partir do ponto de vista
dele será descrito pelos outros sentidos que possui. Ou até mesmo como uma
ferramenta. Um exemplo que costumo citar desse caso é o livro Perfume (que
inspirou o filme homônimo) descrito sumariamente pelo olfato, jogando tanto com
o título quanto com o seu personagem principal e a própria história. Muitas
vezes você não sabe a aparência das coisas, mas sabe como elas são pelo cheiro.
2. Conheça seu cenário.
Não adianta você ter todas as ferramentas e não ter o
cenário a ser descrito. Pesquise, isso é importante em todas as esferas,
entenda que nem sempre (a depender da época e contexto da história) certos
cenários serão aceitáveis.
Por exemplo, em um vilarejo pobre eu não poderei dizer — por
via de regra — que um camponês qualquer vive em uma mansão imensa. Também não
posso cometer anacronismos históricos, pondo, a exemplo, luz elétrica em uma
história medieval. Esses detalhes fazem uma imensa diferença em um cenário.
Fidelidade contextual é de suma importância.
3. Não tenha medo de ser detalhista.
Uma boa descrição pode até omitir algumas coisas, mas uma
excelente descrição tem a capacidade de te transportar para o universo da
história. Fazendo o leitor visualizar até mesmo a poeira sobre o chão.
4. Porém, cuidado com os exageros.
Apesar do detalhamento ser importante, não o alongue demais,
nem o faça em momentos inoportunos. No calor de uma batalha, o leitor não quer
saber como são os filigranas da armadura de um cavaleiro, ou os entalhes de sua
espada. Reserve para a descrição espaços onde não há tanta ação, normalmente
quando estiver contextualizando os cenários no princípio da história.
Também não vá falar do desnecessário. Às vezes, menos é
mais. É complicado equilibrar a descrição, porém é estupidamente necessário que
isso aconteça. Tente encontrar o equilíbrio entre os detalhes e a cena em si.
Uma descrição é uma fotografia, a cena é um filme, você tem que falar o que se
passa enquanto mostra onde se passa.
Uma dica pessoal que eu dou (algo que aplico a mim mesma enquanto escrevo) é não
tentar deixar mais de dois parágrafos sem um verbo de ação. Ou seja, enquanto
descrevo faço o personagem olhar para determinado ponto, ou tocar, ou prestar
atenção a um detalhe que quero descrever. Assim o ritmo fica mais fluido e não
tão estático.
5. Conheça materiais.
Isso entra no nível de detalhamento. Vamos supor uma mesa,
há uma diferença muito grande entre uma mesa de madeira, uma de metal e uma com
o tampo de marfim. Tanto em seu valor quanto em sua simbologia. Sim, objetos
podem ter simbologia. Em uma casa simples pode ser que exista uma mesa mais
cara e isso pode significar que aquelas pessoas dão mais valor àquele ambiente
(sim, isso é real). E nem vou mencionar as diferenças entre as madeiras, os
metais e outros detalhes. Isso é para cada um.
Outro exemplo nesse âmbito é camas serão de materiais
diferentes para épocas diferentes. Na Idade Média é óbvio que não existiam
colchões de mola.
6. Se não souber muitos materiais, jogue a sensação que aquilo lhe causa.
A capacidade de transportar o leitor também está associada
às sensações que os locais lhe causam. Por exemplo, uma sala vazia e estreita é
diferente de um hall amplo e bem iluminado. Os cenários podem (e devem!)
transmitir sentimentos ao leitor. Até se pode opô-los aos sentimentos dos
personagens.
A exemplo: Um velório em um dia ensolarado. Joga-se com a
ideia de um clima alegre e o humor triste do lugar. Pode-se também fazer a
correlação que existe na maior parte dos filmes: velórios em dia de chuva e/ou
outono.
7. Cores são importantes
Ninguém espera que você conheça todos os tons do mundo, mas
é importante caracterizar as cores. Um turquesa sempre será diferente de um
azul royal. Da mesma forma, uma pele de marfim é diferente de uma azeitonada. Isso levando em consideração a maior parte das descrições (feitas pela visão).
8. Não tenha medo de usar figuras de linguagem.
Exemplo bem clichê de comparação: “Os olhos dela eram verdes
como esmeraldas.”
Se dissesse apenas verde, haveria uma infinidade de tons,
mas a comparação já associa a um único tipo de olho. Da mesma forma são os
cenários. Se quiser mais informações sobre as figuras de linguagem, vale dar
uma olhada aqui.
Nem todas serão aplicáveis a um texto descritivo, porém uma
boa parte vem a calhar.
9. EXERCITE!
Tradução: Escrever é difícil.
Esse é o penúltimo item da minha pequena lista, sim,
exercite. Escrita é, acima de tudo, um exercício diário. Desafie-se, ande
com um bloquinho dentro do bolso, comece a observar as coisas e pensar “como eu
colocaria isso em uma cena”. Veja filmes, leia livros.
10. CRIE SUAS PRÓPRIAS REGRAS
Tradução: Desafio Aceito
É, você leu até aqui para me ler dizer que essas dicas podem
não funcionar muito bem. Esse passo-a-passo é muito pautado em minha própria
experiência como escritora e muita coisa que serve pra mim pode não servir para
você.
Invente, reinvente. Sinta-se à vontade para explorar outros
pontos não mencionados!
Espero que tenham gostado das dicas! Beijos e até a próxima.
Amei o artigo! Extremamente bem escrito e um conteúdo impecável!
ResponderExcluirCom certeza vou aplicar essas dicas!
Parabéns
Obrigada! :)
ExcluirFoi um prazer compartilhar isso. Espero que todas as dicas te sirvam bem!
Ficou bem claro e percebi que mal uso os sentidos nas minhas histórias, vou experimentar usá-los com maior dedicação! Obrigada!
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